O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) se aproxima e muitos candidatos ainda têm dúvidas sobre a forma de avaliação de cada participante. Como são calculados os valores das questões? Posso zerar minha nota do Enem? Se eu chutar e errar, minha pontuação diminui?
Para esclarecer essas dúvidas o UOL conversou com dois especialistas na metodologia utilizada para correção, a TRI (Teoria de Resposta ao Item). Segundo eles, o sistema estatístico usado pelo Enem tem o objetivo de medir o conhecimento do participante de maneira precisa. Para isso, ao contrário dos vestibulares tradicionais, as notas são calculadas levando em conta a dificuldade de cada questão (chamada de item), além da quantidade de acertos.
“A TRI considera, em cada questão, três parâmetros (dificuldade, discriminação e acerto casual) que são utilizados para, em linhas gerais, ponderar o impacto de cada questão acertada ou errada pelo respondente em sua pontuação na escala [de conhecimento]”, explica Tadeu da Ponte, diretor da companhia de avaliação Primeira Escolha. Esse conhecimento é identificado a partir da análise do perfil de respostas do participante ao conjunto questões aplicadas.
De forma prática, uma pergunta que teve baixo índice de acertos é considerada difícil e, por isso, tem mais “peso” na pontuação final. Já aquelas que têm alto índice de acertos são classificadas como fáceis e contam menos pontos na nota final do candidato.
2Posso tirar zero?
De acordo com o matemático Dalton Francisco de Andrade, professor de estatística da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), é impossível zerar a nota do Enem, mesmo que o candidato deixe a prova em branco ou erre todas as questões — apenas a redação pode ser zerada.
Isso acontece porque as questões do exame não possuem o mesmo valor. Existem notas mínimas – que nunca partem do zero – e máximas para cada área do conhecimento. Elas dependem do grau de dificuldade do conjunto de perguntas. Ao final de todo o exame, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) desenvolve uma escala “de conhecimento” a partir das respostas obtidas. Com isso, ele calcula as notas mínimas e máximas de cada área da prova.
“Quando se monta uma prova as questões já vêm calibradas [fácil, médio, difícil]. Então, a questão mais fácil da minha prova pode ter, por exemplo, o valor de 300 e a mais difícil 800. Quem fizer o exame e errar tudo vai ganhar 300 pontos, pois este era o valor mínimo do exame. Tudo depende dos itens inseridos dentro dessa escala”, explica Andrade.
Em 2013, as notas dos candidatos em ciências humanas variaram entre 299,5 e 888,7 pontos. Na prova de ciências da natureza, a nota máxima foi 901,3 e a mínima 311,5. Em matemática, a pontuação mínima foi 322,4 e a máxima 971,5. Em linguagens, a nota mais alta foi 813,3 pontos e a menor 261,3 pontos. Sendo assim, o candidato que errou todas as questões de ciências humanas conseguiu tirar 299,5 na edição do ano passado.
“É como, por exemplo, a altura de uma pessoa. Por mais baixa que uma pessoa seja, nunca terá altura zero. Sabemos, no entanto, que existe uma altura média para pessoas do sexo masculino aos 19 anos, que é de 169 centímetros. A partir disso, sabemos que um homem nessa idade que tenha 180 centímetros de altura está acima da média e outra que tenha 160 está abaixo. No caso do Enem funciona da mesma maneira, a escala em cada área foi calibrada para uma média de 500. Pessoas acima de 500 pontos em cada área estão acima dessa média”, explica Tadeu da Ponte.